#7: Dez anos de UMBRA, a história mais sinistra da Turma da Mônica Jovem
A MSP não teria coragem de matar a Turma inteira, né? Quer dizer… Oi?
Quando pensei em escrever sobre histórias de horror para o mês de Outubro, falar de UMBRA era minha prioridade. Acontece que a introdução dele virou o texto anterior desta newsletter, no qual comentei sobre como a Turma da Mônica Jovem foi a coisa mais corajosa que a Maurício de Sousa Produções (MSP) já publicou em toda a sua carreira editorial. Caso você não tenha lido essa primeira parte, recomendo antes de prosseguir com a leitura, porque vou partir do pressuposto que você, leitor, já está acostumado com a lógica absurda e dramática na qual as histórias desta revista operam.
Não é para se assustar com a menção a um novo Cavalo do Apocalipse, um pacto com o diabo e implicações de assassinato infantil. Quer dizer… Não sei se preparei bem vocês para UMBRA, mas não tem problema.
Vamos juntos viajar até Sococó da Ema para a festa da Jumenta Voadora!
MAS QUEM DIABOS É ESSA TAL DE JUMENTA VOADORA?
Antes de falar da história em si, precisamos comentar algumas coisas sobre o estilo do Emerson de Abreu e porque ele foi tão revolucionário nos roteiros da TMJ. Lembra que eu comentei que sempre existiram sagas entre as edições? Normalmente, elas se estendiam no máximo até 3-4 edições, sendo as mais numerosas as de edições duplas, mas em todas essas havia um senso de independência entre as tramas como se elas não se passassem na mesma continuidade. Ao mesmo tempo, todas as edições fazem parte de um cânone. Meio confuso, né? Eu sei. Basta entender que nunca houve um grande “arco” guiando a revista para além das sagas duplas, triplas e quádruplas, isto é, até o surgimento de Emerson e a Super Saga do Fim do Mundo.
No texto passado, recapitulamos a saga que foi o pontapé inicial (Sombras do Passado) e como ela se desdobrou em uma edição de Halloween (edição #63), mas ninguém esperava que no ano seguinte UMBRA chegaria estabelecendo de vez uma narrativa a longo prazo que teria diversas peças para que nós, leitores, montássemos o quebra-cabeça no final. Por isso, essa já é uma história que nasce muito única.
Mesmo ela sendo parte de todo esse babado (que eu vou dar o melhor de mim para explicar), também é uma saga que funciona por conta própria. Claro que há diversos ganchos e tramas que foram desenvolvida em outras edições, mas se você pegar as edições #74, #75 e #76 para ler de uma vez só, vai se sentir satisfeito com o final da história. Isso porque o Emerson de Abreu, além de ser (gostoso) um escritor muito bom, tem uma noção episódica da revista, permitindo um desenvolvimento dos personagens que outros roteiristas não deram prosseguimento por causa da lógica não-serializada da revista. MSP poderia ser mais organizadinha, né minha filha?
Apesar disso, existe um trabalho muito bom do roteirista em fazer o resgate de personagens da Turma Clássica e atualizá-los em um novo contexto para essa versão Jovem. Foi o que ele fez com as “Meninas do Bairro das Pitangueiras”. Penha virou uma sociopata, Agnes um demônio presa entre a Terra e o Céu, e a Sofia (a.k.a Maitê) virou a bestie da Denise, formando uma nova duplinha dinâmica. Em UMBRA, Emerson repete a mesma estratégia ao montar sua história em cima de uma lenda da Turma Clássica, a da Jumenta Voadora.
Para aqueles como eu que não acompanhavam fielmente as histórias dos Almanaques da Turma da Mônica, talvez nunca tenha visto essa personagem, mas a Jumenta Voadora apareceu pela primeira vez na revista “Mônica #8: Lendas da Jumenta Voadora”, na qual ela e Denise ficam contando as possíveis origens da personagem para o pequeno Dudu. Como por exemplo, uma em que a Jumenta volta como um zumbi de um cemitério. Trama que a Mônica rebate dizendo que jumentas não são enterradas em cemitérios. Adoro esse pensamento tão pragmático ter vindo de uma criança.
Em uma revista de 2010, “Mauricio Apresenta Nº9 - Todas as Copas do Mundo”, a origem da personagem é atrelada a uma lenda urbana do futebol que diz que o crânio de um burro foi enterrado no Maracanã, azarando assim a copa de 1950. Mas, como vocês podem ver, ela nunca teve uma origem definida de fato. E Emerson de Abreu se aproveitou disso para contextualizar a personagem em uma trama sinistra.
Guardem o que é, em teoria, essa personagem, porque prometo que o plot twist em cima dela vai deixar vocês chocados. Agora, sem mais delongas, e nem mais apresentações, podemos finalmente falar de UMBRA, minha saga favorita da Turma da Mônica Jovem.
WELCOME TO SOCOCÓ DA EMA
Publicada em setembro de 2014, a edição #74 já começa com aquele clássico set up de filme de terror envolvendo adolescentes. Eles estão indo fazer uma viagem para uma cidadezinha distante com um propósito específico. No caso, é a turma da Mônica (feat. Quim, namorado da Magali) que está indo para Sococó da Ema gravar um documentário sobre a cidade e a sua relação com a Lenda da Jumenta Voadora, uma data que se transformou em um festa típica da região.
Logo na página 8 já temos a primeira referência com a placa da cidade sendo uma recriação óbvia da placa de Twin Peaks, e se lá as coisas ficam esquisitas logo de cara, aqui também. A turma se envolve em um acidente de carro quando o Cebola pega no volante para desviar de uma menina que ele viu parada no meio da estrada.
Assim, a história avança se livrando de Quim, que é um personagem totalmente acessório, para fazer com que a turma cruze seus caminhos com Madame Creuzodete (do Abaeté) e sua assistente Berenice, cujo nome pode ter sido escolhido especificamente para que o Emerson de Abreu desenhasse o seguinte quadro:
Descobrindo que as duas também estão indo para a cidadezinha, a Turma pede uma carona e é assim que eles chegam até Sococó da Ema, onde Denise já está pela área como empresária de Zé Beto e Crispiano, a dupla sertaneja que faz referência a Zé Neto e Cristiano. E aqui preciso fazer um parênteses porque a trama é de 2014. Muito antes da gente descobrir que o agro não é pop, mas sim bolsonarista, e pelas minhas pesquisas o Emerson de Abreu é muito fã de sertanejo, ou era, não sei… Ele sumiu das redes sociais e vamos abordar isso lá na frente. De qualquer forma, no universo da turma existem algumas personalidades desse meio como vocês podem conferir no quadro abaixo.
Ah, e o Zé Beto e Crispiano são personagens apresentados na Turma Clássica na revista Cascão Nº94, que conta com uma história escrita pelo Emerson. Lá, os dois são amigos do Xaveco que aqui aparece de uma forma… diferente. Mas na trama, a dupla sertaneja serve como artifício para inserir Denise de maneira orgânica, e funciona porque toda festa do interior que se preza tem um show de dupla/cantor sertanejo. É assim que eles fazem lavagem de dinheiro, né?
Só que como a turma descobre, Sococó da Ema está LOTADA. Não tem pousada, nem hotel, nem nada, mas tem uma casinha que Berenice oferece para os quatro dormirem. Eles aceitam, como bons personagens burros de um filme de terror. Lá, eles se deparam com um quadro da Jumenta Voadora e Berenice explica a história que é contada pela cidade, na qual a Jumenta é um espírito bondoso de luz e amor que não deixa que nada de ruim aconteça com as crianças da cidade.
Quando a noite cai, a turma descobre que no interior tem mosquito demais e ainda faz um calor do inferno, decidindo tomar banho num riacho nos fundos da casa. É aqui que o negócio começa a ficar tenebroso quando o Cebola vê novamente a menina fantasma que causou o acidente lá do começo da história. Ela diz que foi naquele lugar que morreu e some!
No dia seguinte, Cebola começa a gravar o documentário que é a razão principal da turma estar na cidade. Eles querem investigar as muitas origens da Jumenta Voadora, e enquanto vários cidadãos da cidade repetem a mesma lenda que Berenice contou, um diz que existe a história das sete crianças malvadas que a jumenta castigou. Isso desperta a raiva de um dos moradores da cidade que grita que aquilo é uma mentira da cidade e que seu filho desapareceu por causa da Jumenta, sendo que ninguém fez nada para não atrapalhar o retorno financeiro que a lenda traz para a cidade.
Encucado com esse relato, a turma se prepara para passar a segunda noite em Sococó da Ema na casinha fófis (SQN) da Berenice. Cebola decide ficar pesquisando sobre a lenda, mas isso não impede que ele e os outros sejam atacados por sete fantasmas que tentam assustá-los para que eles caiam fora da cidade. Graças a Magali, que tem conhecimentos de ocultismo (porque é um bruxa taliqual Cheryl Blossom, só aceitem), a turma sobrevive ao ataque com um círculo de sal e são resgatados por Berenice no dia seguinte. Ao ser questionada sobre aqueles espíritos, ela então decide abrir o jogo e contar a história que a cidade esconde acerca da Jumenta Voadora.
Duas décadas atrás, na mesma data em que se comemora o Dia da Jumenta Voadora, uma menina morreu fantasiada de fada com o crânio de um jumento na cabeça ao cair de uma ribanceira. Quem a deixou nesse estado foram sete crianças que faziam bullying com essa pobre menina, filha de uma moradora da cidade conhecida como Jumenta Voadora por causa do cavalinho de madeira que havia no quintal de sua casa esculpido com orelhas grandes demais.
A menina morreu, mas as sete crianças também sumiram. Viraram o que a cidade chamou de “Filhos de Umbra” e cada uma delas tem seu nome, design e poderes próprios. Inclusive, considero esse o ponto mais genial de toda a trama. Todos os sete personagens têm características únicas que fazem deles assombrações sinistras. São eles: Perna de Pau, Absinto, Sangria, Bailarina, A Viúva, Porta-Voz e o Violinista. Mais sobre eles na edição seguinte!
Por enquanto, basta saber que o Cebola se acha o bam-bam-bam da Turma e decide ficar na casa da Berenice enquanto os outros vão curtir o show do Zé Beto e Crispiano. E antes de falar sobre o que acontece com ele, precisamos voltar um pouquinho para discutir um personagem que já foi apresentado: Xavecão.
Lembra que eu disse que o Xaveco aparece de uma forma diferente? Então, dizem que ele é o primo do personagem, mas como vamos descobrir posteriormente, Xavecão veio do futuro para impedir que o destino da Turma se concretize em Sococó da Ema. E isso inclui o Cebola que, ao chegar na casa onde a Jumenta Voadora morava, atravessa uma porta sobrenatural, cai de uma ribanceira e termina a edição MORTO.
Vocês não têm noção do impacto que foi ler o final dessa edição lá em 2014. Eu fiquei doido esperando outubro chegar logo para ler a edição seguinte porque era a primeira vez que a revista possuía uma história sinistra de verdade. Sombras do Passado até ensaiou uma pegada mais sobrenatural com a pegada de Agnes, mas nada se compara com que o UMBRA apresentou em sua primeira parte. A forma como a Lenda da Jumenta Voadora aos poucos vai se tornando mais macabra me deixou muito curioso, porque sabia que havia mais angu nessa história. E nem precisei pensar muito porque na edição seguinte, a #75, finalmente descobrimos a verdadeira história dessa personagem.
UMBRA, O MISTÉRIO REVELADO
Publicada em outubro de 2014, a edição #75 já começa mostrando que o Cebola morreu e não morreu. Ele virou um fantasminha camarada, e aí a história volta um pouco para mostrar exatamente o que aconteceu com ele. Lembra da Menina Fantasma lá do começo? Ela é a filha da Jumenta Voadora, e também a causadora de todos esses babados. Foi ela quem levou o Cebola a atravessar a porta que serve como um portal entre o mundo dos vivos e dos mortos. Por que ela fez isso? A resposta é simples. Porque ela é a verdadeira vilã da história.
Paralelamente a esses eventos do Cebola, a Madame Creuzodete conta um pouco sobre os filhos de Umbra para Denise, e eu preciso colocar essas páginas no texto porque a explicação dos poderes e nomes de cada um é MUITO boa. São personagens que não precisam de um backstory enorme para fazerem sentido. Eles ganham seus poderes conforme as fantasias que vestiam na noite em que foram mortos.
Aliás, esse dia das bruxas gerou, viu? Porque esses sete inocentes foram vítimas da filha da Jumenta Voadora que quis assustá-los com o crânio de um jumento, mas acabou morrendo por conta própria ao cair de uma ribanceira por não enxergar direito.
Enquanto isso, o restante da turma descobre a peça que faltava no quebra-cabeças. Eles descobrem um santuário secreto na casa de Berenice, e descobrem que ela o criou em memória da sua filha, pois a nossa, aparentemente, simpática senhorinha é simplesmente a VERDADEIRA Jumenta Voadora. E é claro que ela não ia deitar para esses adolescentes enxeridos e os envenenou com um chá especial. A última página desta edição é a turma sendo enterrada viva, pois Berenice tem seus próprios objetivos para eles.
Na edição #76, tudo se amarra. Começando pela história de Berenice que tem sua última parte explicada por Madame Creuzodete. Basicamente, ela não conseguiu superar a morte da filha e seus lamúrios foram ouvidos por uma entidade sinistra conhecida como A Serpente, que é um paralelo bem óbvio com o Diabo a.k.a Satanás, mas aqui também é uma entidade maligna com potencial alienígena. Vai fazer sentido lá na frente, mas por enquanto basta saber que Berenice fez um pacto com A Serpente vendendo sua alma em troca de justiça pela filha.
Seu plano consistia em abrir um portal para o mundo dos mortos e distribuir guloseimas para sete crianças que “aterrorizavam” sua filha. O sedativo foi o suficiente para dar início ao ritual, e com elas fantasiadas, Berenice as jogou para o mundo dos mortos, mas como as sete eram inocentes, deu tudo errado. A casa pegou fogo restando apenas a porta vermelha, e enquanto a filha de Berenice conseguiu atravessar para o mundo dos vivos, as crianças sacrificadas conseguiram roubar o crânio da Jumenta Voadora que também era o rosto da menina morta. Assim, o pacto não se concretizou, mas Berenice começou a envelhecer rapidamente e buscou ajuda como assistente de Madame Creuzodete, que a aceitou por acreditar que poderia guiá-la para o bem.
Claro que isso não funcionou.
O plano de Berenice era se aproveitar da Turma para sedá-los e transformá-los nos seus Guardiões da Soleira. Espíritos mortos-vivos, assim como os Filhos de Umbra, que iriam conseguir resgatar o crânio da Jumenta Voadora para trazer sua filha de volta. Ela só não contava com o Cebola nessa equação.
Acontece que depois de muito lutar com os Filhos de Umbra na edição #75, ele descobre que os sete são inocentes e estão na posse do crânio que pode dar poderes ilimitados para a Menina Fantasma e a sua mãe, a Jumenta Voadora a.k.a Berenice. Cebola pede que eles usem o crânio como uma isca, e quem faz a entrega desse artefato é ninguém menos que a Dona Morte em um redesign INCRÍVEL.
E a diva ainda tem a melhor fala da história inteira quando debocha do Cebola. É a mais mais!
Assim, a história termina em um grande confronto dos Filhos de Umbra x Os Guardiões da Soleira, onde o mal vence e Berenice consegue o crânio da Jumenta Voadora, selando a alma de sua filha dentro dele e usando o artefato em si mesma para se transformar em ninguém menos que O CAVALO PÁLIDO DA MORTE, o segundo Cavalo do Apocalipse enviado pela serpente.
Para derrotar esse bicho feio, se unem os Filhos de Umbra e o Xavecão, que cai na porrada no mano a mano, mas só quem pode dar um jeito nela é o Cebola, que apesar de ser o mais idiota da história inteira, se sacrifica pois ainda é uma alma boa cuja luz pode derrotar a Jumenta Voadora versão demoníaca. No final, a vilã atravessa a porta vermelha e assim é levada pela Dona Morte para o inferno, não sem antes a diva avisar que o Cebola está marcado e só vai morrer quando os quatro Cavalos surgirem. Isso não é uma previsão, é um aviso. A morte dele já está anunciada.
Mas, a história termina com os Filhos de Umbra livres, pelo menos!
Ou quase, já que apesar de ter passado a história desaparecido, o Cascão é que termina a história com um questionamento sobre o quão manipuladores os Filhos de Umbra foram para se libertarem do purgatório. O último quadro mostra uma Sococó da Ema dominada pelo Porta-Voz, indicando que os sete mantiveram seus poderes e agora podem fazer o que quiserem por estarem soltos. Fim.
UMBRA, UMA OBRA-PRIMA DO MEDO (EM QUADRINHOS)
Se você chegou até essa parte do texto e está se perguntando “O QUE CARALHOS FOI ISSO QUE EU LI?”, saiba que é realmente a sensação que a maioria dos leitores teve ao longo das três edições que compõem UMBRA. Essa é uma história única na publicação da Turma da Mônica Jovem por assumir sem medo os elementos sobrenaturais que poderiam parecer assustadores demais para os leitores mais novos.
Ainda bem que o Emerson de Abreu não trata seus leitores como crianças. Ele insere tantas camadas diferentes dentro da história, que ler uma trama sua é literalmente como montar um quebra-cabeças, procurando como uma referência se encaixa, como as reviravoltas formam uma história maior e principalmente, como um universo tão vasto como da Turma Clássica pode ser reaproveitado dentro da versão Jovem. Isso porque Emerson não costuma criar personagens novos que surgem do nada. Até mesmo os Filhos de Umbra que são da TMJ apareceram três anos depois, em 2017, na Turma Clássica na revista Cebolinha Nº25 - Os Filhos de Umbra. Ou seja, nada aqui existe sem contexto.
E esse é o maior apelo de UMBRA e das histórias do Emerson. Todas as sagas funcionam muito bem isoladamente, mas dentro de um contexto, de pertencerem a Super Saga do Fim do Mundo, elas geram um engajamento que outras edições não estimulam. São referências, easter eggs e ganchos feitos para gerarem teorias que mantém os fãs engajados, não um simples cotidiano de quem está beijando quem no Limoeiro. Sem querer desqualificar as histórias do cotidiano adolescente, mas venhamos e convenhamos que o contexto dessa trama é muito mais interessante. E não estou falando isso do completo nada.
Umbra já foi republicada como versão normal, versão de luxo e esse ano, em comemoração aos seus dez, foi lançada uma adaptação em livro com novas ilustrações. Ainda não consegui pegar uma versão para ler, mas só mostra que o apelo dessa história continua vivo dez anos depois. E porquê?
Porque UMBRA é uma obra-prima do terror nacional infantojuvenil. São poucas as histórias que são feitas exclusivamente para esse público dentro do gênero. Filmes de terror, eu desconsidero porque possuem violência e sexo muito acima do permitido para essa faixa etária. Vale lembrar que a primeira fase da Turma da Mônica Jovem é para adolescentes de 10 anos, e a partir da segunda fase, essa classificação foi alterada para 12 anos.
Então, pensem comigo. Imagina o impacto de ler UMBRA nessa idade e se deparar com todo um universo que é assustador, mas, ao mesmo tempo, interessante. Foda, né? E defendo essa trama com unhas e dentes porque ela foi e é uma porta de entrada para muitas crianças e adolescentes dentro do gênero do terror. Por mais que hoje em dia haja uma maior adesão desse público, muitas vezes eles consomem material impróprio para a sua idade, como já mencionei anteriormente, então se utilizar da Turma da Mônica, a propriedade intelectual mais importante dos quadrinhos nacionais, com o propóito de apresentar histórias de terror para crianças, é FODA DEMAIS.
E tudo isso feito com aval do próprio Maurício de Sousa, viu? Inclusive, ele assina todas as edições da revista com um editorial intitulado “Fala, Maurício!”. Vou até deixar o texto que ele escreveu para a edição #74 que define bem esse tom de introdução que UMBRA tem.
Agora, pessoalmente, preciso dizer que sou muito fã do Emerson de Abreu. Adoro como ele torna histórias simples em tramas sinistras. Em como ele conseguiu que a MSP aprovasse uma super saga distribuída em diversas edições que consiste basicamente na Turma da Mônica lutando contra o Diabo. E cada uma dessas sagas individuais foca em um personagem principal específico, porque não sei se vocês notaram, mas Mônica lutou contra o Cavalo Vermelho da Guerra, o Cebola contra o Cavalo Pálido da Morte e futuramente ainda tem uma terceira saga que envolve o Cascão e o Cavalo Branco da Decadência. Mas, e a Magali?
Então…
UMBRA ainda conseguiu fazer com que o Emerson tivesse fôlego para as edições #78, #79, #83 e #84 que são edições duplas, consecutivas, com uma história que aprofunda a questão do futuro pós-apocalíptico do qual o Xavecão veio e a outra serve como um crossover da turma com o Chico Bento Moço, outra revista que a MSP publicou ao ver o sucesso editorial da TMJ.
Em “Herdeiros da Terra”, temos uma explicação mais detalhada sobre quem é a Serpente que tantos personagens avisam que está voltando. Ela é o Diabo, não só literalmente, como também é um Deus Alienígena Lovecraftiano que criou um planeta-tumba apenas para seus súditos. Ah, e essa história tem referências à Alienígenas do Passado, Contatos Imediatos de Quarto Grau, Alien e também conta com a presença do queridíssimo Astronauta, mostrando que o Emerson não exclui ninguém.
Por fim, temos também a saga “A Torre Inversa” que acontece durante as edições #90, #91 e #92 focando no Cascão e um vilão que se apresenta como mais um dos Cavalos do Apocalipse. Essa foi a última grande saga dessa trama, já que a última edição que o Emerson escreveu para a revista foi a #99, com inspirações óbvias em Five Nights With Freddy’s e que conclui o destino do casal Xavecão e Denise. Aí pronto, acabou. Babou. Não tivemos mais nada.
Alguns dizem que isso aconteceu porque o Emerson de Abreu foi chutado da MSP, mas ele continuou escrevendo histórias para a turminha clássica. No Facebook e no Reddit, encontrei algumas pessoas dizendo que a MSP ficou fula da vida com as reclamações dos pais sobre o nível das histórias, mas isso não passa de uma lenda urbana. Claro que essas edições podem ter causado um certo incômodo, mas não há provas concretas de movimentações parentais contra a Super Saga do Fim do Mundo. Acho que sei lá, os pais devem estar com preocupações maiores, como sustentar uma criança em pleno século XXI.
A teoria que se mostrou mais plausível e que tem prints rondando na internet é que a Super Saga “acabou” por decisão do próprio Emerson. Ele disse que estava obcecado com esse projeto a ponto de não ser mais um trabalho saudável, e então parou. O roteirista sempre foi muito aberto sobre suas questões de saúde mental, então é um motivo plausível, já que conforme as edições iam sendo lançadas, o hype dos fãs também crescia. E agora que já fazem quase oito anos desde que a última edição do projeto foi lançada, se ele voltar o hype vai ser gigantesco do mesmo jeito e há uma grande chance dos fãs se frustrarem, então é uma armadilha da qual ele não pode escapar.
Além disso, a própria Turma da Mônica Jovem mudou. A partir da edição #100, ela foi renumerada voltando para o número #1 e começou sua segunda fase. Atualmente, a revista já está na sua terceira fase com um formato de histórias diferentes e com Milena sendo uma das protagonistas. E esse também é um ponto delicado. O que me parece é que Emerson de Abreu criou sua trama sem pensar em incluir Milena, porque ela foi uma personagem criada exclusivamente para resolver o problema da MSP em relação a falta de personagens negros. Não acho que sua inclusão é errada, mas discordo da forma que ela foi feita em algumas mídias. Porém, Emerson é criativo pra caramba, e defendo que se ele voltar um dia vai conseguir dar um jeito de incluir a Milena.
Até lá, ficamos no aguardo da Magali lutar contra o Cavalo Negro da Fome, que foi confirmado como sendo a vilã Bruxa Viviane. Ia ser tudo um atraque das duas bruxas, né? Mas vamos ficar só no gostinho.
Assim, como também vamos ficar na vontade de ver uma adaptação de UMBRA porque preferiram criar aquela aberração cinematográfica intitulada Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo que aproveitar o roteiro dessa história aqui que serviria direitinho um terror da mais alta qualidade.
QUEREMOS A JUMENTA VOADORA LIVE ACTION AGORA!
Na recomendação de hoje, trouxe um filme que é meio desconhecido pelo grande público, mas que me chamou a atenção desde a primeira vez que li a sinopse e que tem tudo a ver com um aspecto específico de UMBRA. Escrito e dirigido por Matheus Nachtergaele, “A Festa da Menina Morta”, de 2008, aborda justamente a questão dessas figuras santificadas através de alguma tragédia e cujas mortes são alçadas à categoria de festejos populares religiosos.
Em entrevista a Andressa Foresti, Nachtergaele falou que a inspiração veio de um caso real quando ele estava nas gravações de O Auto da Compadecida no interior da Paraíba. Lá, o ator foi a uma festa religiosa em torno do vestido de uma menina desaparecida. A família dela considerou um milagre aquele objeto ter sido encontrado, e comovido com o que viu, ele começou a pensar em fazer um filme em torno dessa história. O resultado foi o longa que aborda temas polêmicos e que tem no seu elenco Dira Paes e Cássia Kis. Ele pode ser visto no Youtube em uma qualidade não tão boa e também naquela velha pirataria de sempre.
Agora, se você busca algo mais real, então aconselho o documentário “Ela não queria ser santa”, com direção do jornalista Demitri Túlio e roteiro de Arthur Gadelha. Disponível na plataforma OPovo+, o filme conta a história de mulheres vítimas de feminicídio que foram elevadas ao status de santas pelos religiosos que conheceram suas histórias.
Ambas essas obras se conectam com UMBRA pelo fato da fé ter se tornado um produto, uma festa, que muitas vezes movimenta cidades inteiras em determinadas épocas. E que existe por trás desses festejos? Crimes horrendos e sanguinários perpetrados contra pessoas que nunca pediram para se tornarem santas. Mas é assim que funciona, pelo menos no Brasil.
Gostou desse texto? Então, deixe um comentário! Me diz se você leu UMBRA na época ou está conhecendo agora, e o que achou dessa história que é realmente sinistra. Aliás, quem sabe eu não escrevo mais sobre a Turma da Mônica Jovem? Existe uma saga que é ainda mais sinistra que essa e cuja inspiração é nada menos que o filme “A Centopeia Humana”! Fico pasmo como a MSP permitiu essa publicação…
eu amei muitoo!! UMBRA é uma das minhas histórias favoritas da Turma da Mônica Jovem e eu já li ela mil vezes e o texto deixa tudo bem explicadinho. Quero mais 👏🏻👏🏻👏🏻